Poucos dias depois da Maria Clara nascer, disseram-me "sei que és uma gaja rija mas atenção aos baby blues, é uma fase lixada"
Ouvi aquilo, tinha uma noção do que era, mas, honestamente, nada que tivesse ouvido ou lido me tinha preparado para o que aí vinha!
A coisa manifestou-se pela primeira vez no dia que saí do hospital. Por inexperiência, pensamos que os cintos dos carros fossem todos do mesmo tamanho, e como tal nunca nos passou pela cabeça não conseguir colocar lá o ovo!
O ovo não cabia, o cinto não chegava e na minha cabeça começou a dar-se a primeira revolução, o meu lado pragmático dizia-me que aquilo se iria resolver e que iriamos para casa, o meu lado hormonal dizia-me que não!
As lágrimas escorriam-me pela cara sem que as conseguisse controlar! Soluçava, em silêncio, para que aquilo acabasse! Apoderou-se de mim uma tristeza inigualável, o que era algo completamente contraditório! Deveria estar feliz, como nunca estivera! Tinha o meu bebé ao meu lado, o meu sonho concretizado, porque raio então só me apetecia chorar?!
Lembro-me, claramente, desse conflito interno, por um lado queria calar-me, acabar com aquilo, por outro, não conseguia, por mais que a razão me dissesse para o fazer!
A ideia de que o instinto nos diz tudo está errada! Lembro-me de pensar vezes sem conta, enquanto olhava para a minha princesa, o que iria fazer com ela!
Como saber se tinha frio, se tinha calor? Se tinha fome ou precisava de arrotar? Se um arroto bastava ou tinham que ser mais?
Se a água do banho estava morna o suficiente, ou se ela chorava porque era Inverno e o raio da água estava fria?!
Lembro-me de não me lembrar de uma série de coisas, porque a minha memória tinha ficado em parte, naquele hospital! De me sentir um zombie cada vez que acordava de noite para amamenta-la!
Ainda consigo sentir as dores nos mamilos cada vez que ela sugava!
A nossa paciência (e experiência) cresce à medida que eles crescem também, e não pelo simples facto de nos termos tornado mães! Dei por mim a gritar muitas vezes com um ser que chora porque não tem outra forma de comunicar, e de consequentemente, me sentir a pior pessoa do mundo por o fazer!
O karma, nestes assuntos, é imediato! Assim que me saía um "porra pah!" por ter dormido 2 horas e o choro dela se ter metido por trás das minhas orelhas, tal alarme que não desliga, imediatamente o meu choro começava e o arrependimento do grito também!
Senti uma carga enorme em cima, por mais ajuda que pudesse ter!
Temos que saber porque é que eles choram, mas não sabemos!
Temos que saber se têm fome, sono ou frio, mas não sabemos!
Temos que ter paciência, porque eles não têm outra forma de comunicar, mas não temos!
A privação de sono, ainda é, uma das mais dolorosas formas de tortura, e nós, mães, passamos por ela como se da coisa mais natural se tratasse! Não é!
"Ah mas quando olhamos para eles e eles sorriem, tudo compensa!" - diziam-me!
Não, não compensa! Ela ainda não sorri! Dizia eu, com um misto de ironia e amargura!
Faz caretas, que parecem sorrisos, mas só se está a espremer para fazer cocó!
Não dorme e passa os dias pregados à minha mama! Estou cheia de dores nos mamilos, de cabeça e tenho sono! E à noite leva cerca de 4 horas a chorar até se deixar dormir!
Não estou feliz, estou exausta! Era a única coisa que conseguia pensar! E cada vez que falava nisto, tinha que fazer uma força gigante para não desatar a chorar!
Dei por mim a conseguir proezas como dormir enquanto o meu braço se mexia para embala-la no berço à noite ou fechar os olhos e sonhar sentada, enquanto ela mamava!
Chorei muito! Hormonalmente não conseguia controlar! Chorava quando ela chorava e chegava ao desespero depois de ouvi-la durante 3 horas em choro ininterrupto!
Chorava quando olhava para ela, finalmente, a dormir!
Chorava por ela ser tão frágil e tão pequenina é só querer protege-la para sempre!
Chorava por ela ser tão frágil e tão pequenina é só querer protege-la para sempre!
Chorava quando me sentia a pior mãe do mundo por ter mandado um berro!
Chorava quando só queria uma manhã de folga para puder recuperar e não podia porque ela precisava de mim para comer!
Chorava de dores, no útero, na cicatriz, nas mamas e nas hemorrodias!
Chorei tanto quando consegui ir à WC pela primeira vez que desejei parir outra vez ao invés daquilo!
Somos feitas de sentimentos de culpa a partir do momento que nos tornamos mães, e o primeiro mês do bebé é o rei deste estado!
Não somos todas iguais, os bebés não são todos iguais, mas se esperamos ver logo arco-íris e unicórnios, a coisa vai ser ainda mais difícil de gerir!
As primeiras seis semanas são lixadas! Passamos por uma descarga emocional fortíssima e por privações que nunca antes haviamos passado!
Estamos a conhecer o nosso bebê e ele a nós!
Estamos a descobrir a nova vida enquanto casal e pais!
Vamos chorar muito, vamos desesperar!
Vamos querer fugir, nem que seja por umas horas!
Vamos ter a plena consciência que alguém depende de nós e por isso mesmo vamos ter o coração fora do peito o resto da vida!
Vamos perceber que chorar faz parte e que desde que a dada altura passe, é normal!
Vamos acreditar que tudo vale a pena quando eles olham para nós e pela primeira vez sorriem! Porque, verdadeiramente, é a melhor coisa da vida!
É muito difícil, mas a tarefa mais gratificante que alguma vez pudemos desempenhar!
Ser Mãe - o trabalho mais difícil do mundo!