terça-feira, 17 de novembro de 2020

Sonha, menina! Sonha!

Depois de três livros infantis escritos (A Aventura da Pulguinha Aurora, Aurora Pelo Mundo Mágico da Amizade e De Pernas P´ro Ar — ainda no forno) é agora altura de me desafiar e partir para outros mundos.

É com um tremendo orgulho que partilho convosco a primeira imagem da Coletânea "O Tempo das Palavras com Tempo", que será publicada brevemente e da qual sou coautora com o conto "Por Ti".

Se há 10 anos me dissessem que o meu nome iria configurar uma lista de autores numa coletânea ou que, ao fazer uma pesquisa no google com o meu nome este iria surgir enquanto escritora de livros infantis, dificilmente acreditaria e largaria uma gargalhada típica de quem sempre se habitou a rir de si próprio. Contudo, quer a vida nos encher de surpresas e nos colocar perante caminhos que julgamos impossíveis.

Nunca me identifiquei com o meu signo, nem liguei muito a esses misticismos, para ser honesta. A vida fez-se dura e foi preciso acreditar muito em mim para perceber que só dessa forma atingiria objetivos, no entanto, algumas características de Peixes pareciam roçar qualquer coisa que me era familiar. Fala-se de pessoas sonhadoras e criativas, e eu, que até de dia consigo sonhar, nunca compreendi que as artes não se limitavam ao quadro pintado a aguarela, à casa chinesa construída com palitos de fósforo (saudades tuas, avó Graciete) ou do jeito para as malhas ou o croché. Levei tempo a perceber que a escrita era também uma arte. A minha. Aquela, dentro de todas, que melhor faço. Que melhor sei. Que mais gosto.

Sou mãe, filha, mulher, esposa, amiga, governanta e escritora, porque, como tão bem gosto de explicar: Nenhum de nós é uma única coisa, mas sim, as experiências, ensinamentos e aprendizagens que nos levaram ao exato lugar que ocupámos.

Que nunca nos faltem sonhos por concretizar.

Deixo-vos a sinopse do meu conto, que se apresenta num registo totalmente diferente daquele que o meu público se habitou, ainda assim, espero que gostem, que se emocionem.

A todos vós que gostam de ler-me, o meu muito obrigada.

"Laura sempre vivera em casas munidas de gritos que ecoaram ao longo da sua vida e a levaram a relações disfuncionais e a distorções daquilo que deveria ser o amor. Tudo muda quando conhece Bruno e se apaixona, irremediavelmente, pelas suas palavras, beleza, jeito meigo e beijos calorosos. O namoro escala e dá lugar ao casamento. Laura respira felicidade, mas, sem se aperceber, o relacionamento começa a transformar-se em algo ruidoso, contudo ainda desconhecido para ela, que a leva a submeter-se às vontades do marido, anulando, de dia para dia, as suas.

As decisões que toma, enquanto mulher dedicada em exclusivo ao casamento, começam a ter consequências e Laura vê-se sozinha, desamparada, sem amigos ou família a quem recorrer, por vergonha e medo, quando o seu mundo lhe foge debaixo dos pés e é agredida pela primeira vez. 

Empenhada em salvar o seu casamento e ser feliz ao lado daquela pessoa que não consegue deixar de amar, a sua vida passa a ser uma luta constante entre a utopia daquilo que projetou para si, e a realidade, tão longínqua, daquilo que realmente vive.

Por aguentar um casamento violento e abusivo, julga estar a ser recompensada quando descobre que está grávida. Aquele estado de graça passa a ser, no seu ponto de vista, a causa e a consequência de tudo o que ficara para trás, e que o que acontecera até então deverá ser esquecido e perdoado em prol da criança que está para chegar.

Invadidos por uma alegria nova e contagiante, Laura e Bruno preparam-se para a segunda ecografia quando algo corre terrivelmente mal.

Estará Laura preparada para tomar a maior e mais difícil decisão da sua vida e sobreviver às suas repercussões?"






 







sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Esse tal amor de mãe

 

Quando a Maria Clara nasceu disseram-me que parte desta coisa de ser mãe e de reconhecer a verdadeira essência do amor incondicional, era perceber que ele aumentava todos os dias.

Custou-me a crer, ou seja, não duvidei de quem afirmou tal manifestação de amor, mas achava difícil amar mais do que aquilo que já amava, sentir o coração pulsar ainda com mais força, querer apertar um abraço durante mais tempo ou ter o estômago ainda com mais borboletas esvoaçantes quando encostava o meu nariz ao dela.

Contudo, o tempo foi passando e a Maria Clara começou a compreender o que eu dizia, começou a reagir com sorrisos à minha voz.

De repente, romperam-lhe os primeiros dentes e eu segurei-a no colo enquanto ela se contorcia com as primeiras dores a sério.

De repente, ela começou a gatinhar tal macaquinho apoiado numa só perna, o que fazia as delícias das próprias macacadas dos pais.

De repente, ela começou a brincar connosco, a fazer caretas quando sabia que as devia fazer, a fechar os olhos e a boca e a encolher o nariz quando lhe mostrávamos a colher com o antibiótico.

De repente, ela começou a andar e eu ganhei uma nova dor nas costas por, como sempre, querer ampará-la nas suas quedas.

De repente, ela começou a falar e a expressar-se de uma forma completamente compreensível, dizendo o que sentia, o que queria e, especialmente, o que não queria.

De repente, começou a reconhecer as diferenças entre o frio e o calor, o sol e a lua, o grande e o pequeno, o alto e o baixo.

De repente, iniciou o desfralde e, sim, muito de repente eu dei por mim a comprar-lhe as primeiras cuecas porque a minha bebé já não usava fralda.

De repente, deita-se comigo na cama e abraça-me com tanta força que é ela quem consegue engolir-me no seu regaço e no seu amor.

E assim, de repente, sem eu ter conseguido identificar com precisão o momento em que aconteceu, eu percebi que tinham razão. Que este amor aumenta, nunca se esgota e nunca se esgotará.

Nunca, no mundo e na vida, haverá maior amor que o amor de mãe.

Nunca, no mundo e na vida, haverá maior dádiva que um filho.




 

sexta-feira, 27 de março de 2020

Beijos que matam

Os dias revelam um cansaço nunca antes vivido.
Corpo e mente vagueiam entre os espaços em branco dos metros quadrados da vida de cada um.

A rotina de que muitos se queixavam tinha desaparecido, e no lugar dela existiam somente dias a passar.
Os dias, que agora mais do que nunca, faziam juz ao clichê: um de cada vez...não podia ser diferente, por mais que o ansiássemos!

Dizem-me que o mundo mudou, mas não podiam estar mais errados.
As árvores que vejo da minha janela - agora mais sagrada que nunca - continuam no mesmo sítio, o vento que as faz balançar continua a soprar, as nuvens, quais símbolos de liberdade agora tão esperada, espreitam-me lá do alto, os pássaros - alheios a novos tempos - batem as asas e desaparecem num voo feliz (assim o entendo), pois cantam melodias que antes não ouvíamos - não tínhamos tempo - justificávamos nós.

Não, o mundo não mudou! Tudo continua exatamente onde sempre esteve, somos nós os ocupantes de novos lugares nesta viagem inesperada.

É tempo de pensar, recomeçar, analisar; e tempo é coisa que agora não nos falta, certo?

Reaprendemos a amar numa realidade onde deixaram de existir abraços, onde os beijos podem matar e as saudades se apaziguam através de ecrãs.
Sorrimos com os olhos mas o peito enche-se de dor, pois cada um sabe o medo que o incerto lhe traz.

Os netos vêem-se da janela e seguram-se lágrimas de amor.
As amizades alimentam-se de planos futuros, gargalhadas que disfarçam receios e mensagens que aquietam o coração.

Dizem-nos que vai ficar tudo bem e nós tendemos a acreditar, afinal, através de um inimigo invisível, o mundo permitiu-se ver o que, no fundo, sempre importou: o amor!


Só as mães sabem

Amar-te. É sentir saudades tuas todos os segundos, mesmo que estejas a meu lado. É ser irracional e querer cuidar-te sempre. Para sempre. Co...