Quando
a Maria Clara nasceu disseram-me que parte desta coisa de ser mãe e de
reconhecer a verdadeira essência do amor incondicional, era perceber que ele
aumentava todos os dias.
Custou-me
a crer, ou seja, não duvidei de quem afirmou tal manifestação de amor, mas achava
difícil amar mais do que aquilo que já amava, sentir o coração pulsar ainda com
mais força, querer apertar um abraço durante mais tempo ou ter o estômago ainda com mais borboletas esvoaçantes quando encostava o meu nariz ao dela.
Contudo,
o tempo foi passando e a Maria Clara começou a compreender o que eu dizia,
começou a reagir com sorrisos à minha voz.
De
repente, romperam-lhe os primeiros dentes e eu segurei-a no colo enquanto ela
se contorcia com as primeiras dores a sério.
De
repente, ela começou a gatinhar tal macaquinho apoiado numa só perna, o que
fazia as delícias das próprias macacadas dos pais.
De
repente, ela começou a brincar connosco, a fazer caretas quando sabia que as
devia fazer, a fechar os olhos e a boca e a encolher o nariz quando lhe mostrávamos
a colher com o antibiótico.
De
repente, ela começou a andar e eu ganhei uma nova dor nas costas por, como
sempre, querer ampará-la nas suas quedas.
De
repente, ela começou a falar e a expressar-se de uma forma completamente compreensível,
dizendo o que sentia, o que queria e, especialmente, o que não queria.
De
repente, começou a reconhecer as diferenças entre o frio e o calor, o sol e a
lua, o grande e o pequeno, o alto e o baixo.
De
repente, iniciou o desfralde e, sim, muito de repente eu dei por mim a comprar-lhe as primeiras cuecas porque a minha bebé já não usava fralda.
De
repente, deita-se comigo na cama e abraça-me com tanta força que é ela
quem consegue engolir-me no seu regaço e no seu amor.
E
assim, de repente, sem eu ter conseguido identificar com precisão o momento em
que aconteceu, eu percebi que tinham razão. Que este amor aumenta, nunca se
esgota e nunca se esgotará.
Nunca,
no mundo e na vida, haverá maior amor que o amor de mãe.
Nunca,
no mundo e na vida, haverá maior dádiva que um filho.