sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Esse tal amor de mãe

 

Quando a Maria Clara nasceu disseram-me que parte desta coisa de ser mãe e de reconhecer a verdadeira essência do amor incondicional, era perceber que ele aumentava todos os dias.

Custou-me a crer, ou seja, não duvidei de quem afirmou tal manifestação de amor, mas achava difícil amar mais do que aquilo que já amava, sentir o coração pulsar ainda com mais força, querer apertar um abraço durante mais tempo ou ter o estômago ainda com mais borboletas esvoaçantes quando encostava o meu nariz ao dela.

Contudo, o tempo foi passando e a Maria Clara começou a compreender o que eu dizia, começou a reagir com sorrisos à minha voz.

De repente, romperam-lhe os primeiros dentes e eu segurei-a no colo enquanto ela se contorcia com as primeiras dores a sério.

De repente, ela começou a gatinhar tal macaquinho apoiado numa só perna, o que fazia as delícias das próprias macacadas dos pais.

De repente, ela começou a brincar connosco, a fazer caretas quando sabia que as devia fazer, a fechar os olhos e a boca e a encolher o nariz quando lhe mostrávamos a colher com o antibiótico.

De repente, ela começou a andar e eu ganhei uma nova dor nas costas por, como sempre, querer ampará-la nas suas quedas.

De repente, ela começou a falar e a expressar-se de uma forma completamente compreensível, dizendo o que sentia, o que queria e, especialmente, o que não queria.

De repente, começou a reconhecer as diferenças entre o frio e o calor, o sol e a lua, o grande e o pequeno, o alto e o baixo.

De repente, iniciou o desfralde e, sim, muito de repente eu dei por mim a comprar-lhe as primeiras cuecas porque a minha bebé já não usava fralda.

De repente, deita-se comigo na cama e abraça-me com tanta força que é ela quem consegue engolir-me no seu regaço e no seu amor.

E assim, de repente, sem eu ter conseguido identificar com precisão o momento em que aconteceu, eu percebi que tinham razão. Que este amor aumenta, nunca se esgota e nunca se esgotará.

Nunca, no mundo e na vida, haverá maior amor que o amor de mãe.

Nunca, no mundo e na vida, haverá maior dádiva que um filho.




 

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