segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Só as mães sabem

Amar-te.

É sentir saudades tuas todos os segundos, mesmo que estejas a meu lado.

É ser irracional e querer cuidar-te sempre. Para sempre. Como se nunca fosses crescer.

É amparar-te e ser capa de chuva que te protege dos pingos mais grossos e das tempestades mais fortes. Sempre. 

É segurar-te as mãos para te encaminhar na direção certa, mesmo reconhecendo que o teu caminho a ti pertence.

É guardar-te para mim e não deixar que o mundo, nas suas voltas menos simpáticas, algum dia te mude.

É pedir que sejas, primeiro que qualquer outra coisa, feliz, mesmo sabendo quão efêmero esse estado pode ser.

É guardar a tua gargalhada e a tua inocência para sempre e não deixar que nada, nem ninguém a roube.

É morrer de medo que te magoem e que eu nada possa fazer a não ser consolar-te. E será tanto. Sempre.

É passar pelos dias a achar que serás criança para sempre, e permitir que fujam sem a magia que deveriam ter.

É abraçar-te com força todos os dias, dizer-te que te amo todos os dias, beijar-te todos os dias, elogiar-te o cabelo, o sorriso e o olhar todos os dias, e ainda assim, todos os dias não chegarem para expressar o que sinto por ti.

Amar-te é doer o peito. 

Porque quando se ama um filho o peito transborda de um sentimento muito maior que o amor, e esse aconchego e desassossego da alma, ainda sem nome, só as mães sabem pronunciar.








terça-feira, 21 de setembro de 2021

Cabeça de Rainha

"Meu amor, acho que te contemplei pouco, olhei pouco para ti, escutei-te pouco, compreendi-te pouco, quis muito. Fui injusta contigo e comigo. Enevoada por esta urgência e necessidade imposta por um mundo tão injusto para as mães, que lhes diz que devem ser tudo aquilo que conseguirem: mães, mulheres, esposas, empreendedoras, donas de casa. 

Achei que seria capaz de tudo, e fui, porém, nem tudo foi prazeroso. Tive, em muitas destas coisas, um escape para aquilo que não conseguia controlar: estar contigo quando choravas constantemente, estar contigo quando não dormias, estar contigo quando te amamentava, dava banho, mudava fraldas, e só queria 5 minutos para mim ou uma noite inteira de sono. Não consegui, então fugi de ti, quando tudo o que mais queria era mimar-te."

Ultimamente, tenho pensado um pouco mais a sério na possibilidade de ter um segundo filho. Segundo filho, terceira gravidez. A mágoa de uma conceção que não chegou ao fim ditou que, pelo menos durante um ano, não pensasse no assunto. Não estava traumatizada, mas não conseguia deixar de matutar que a primeira gravidez tinha corrido bem, o parto tinha corrido bem, então por que raio tinha eu abortado espontaneamente às quatro semanas? Bem sei que é normal e todas aquelas cosias que nos dizem: “o nosso corpo é muito inteligente e percebe que algo não está bem e expulsa”. Não sei quanto às outras mulheres que passaram por tal violência, mas a mim, esta explicação não me acalmou nem um bocadinho, pelo contrário.

De maneiras que uma gravidez interrompida aliada a quase dois anos de privação de sono, levaram-me a esquecer o tema. Ficou ali no canto das memórias ou dos projetos que não se concretizam.

Nunca, sequer, pensei que iria equacionar a hipótese de não ter um segundo filho, aliás, a ideia seriam três, todavia só quem passa por estas duas situações consegue compreender a dimensão que elas podem atingir.

“Não há dois bebés iguais” — dizem-me os fervorosos que anseiam pela chegada de mais um, e isto soa a absolutamente nada para quem esteve quase três anos sem dormir. 

Eu não tenho medo do parto, de acordar de 3 em 3 horas, de amamentar, de mudar fraldas cagadas às 5 da manhã ou acalmar cólicas. Não tenho medo de ser mãe outra vez, de criar outro ser humano e tentar fazer dele a melhor pessoa possível, não tenho medo de que ele seja igual à irmã. Tenho medo de não aguentar. Tenho medo de passar-me para o outro lado e não conseguir sair de lá. E este medo é tão palpável que, ainda não existindo, já é real.

Quando a Maria Clara passava por esta fase, perante aqueles que me liam, fiz muitas piadolas sobre o assunto e, por isso mesmo, aparentemente estava tudo bem. Não estava! Chorei muitas vezes porque achava que não aguentava mais. Gritei demasiadas vezes com uma bebé que não tem culpa que a mãe esteja estoirada. Senti-me muitas vezes uma merda de mãe. Fugi muitas vezes desse sentimento. Não se trata de ter tempo para nós, de ir beber um café com uma amiga, de sair à noite lá quando calha para namorar ou tirar férias a dois para retomar a vida de casal. Trata-se de fugir. De fugir de uma dor e de um cansaço que cresce todos os dias e que não conseguimos controlar. Trata-se de querer parar uns minutos e a nossa vida seguir a 180km/segundo. Trata-se de querer ser a mãe perfeita para perceber, da pior forma possível, que ela não existe.

Não sei se a Maria Clara terá irmãos, não sei se conseguirei tomar essa decisão sem que a espinha se arrepie, só sei que ser mãe é, e será sempre, a tarefa mais difícil do mundo, e no entanto, é, também, o único trabalho que é pago em amor. E amor queremos sempre receber.

Baixem os braços. 

Não tenham medo. 

Não tenham vergonha. 

Não se pressionem.

O mundo continuará a girar. 

Parir um ser humano e cuidar dele já é coroa que pese o suficiente nessas cabeças de rainha.






terça-feira, 17 de novembro de 2020

Sonha, menina! Sonha!

Depois de três livros infantis escritos (A Aventura da Pulguinha Aurora, Aurora Pelo Mundo Mágico da Amizade e De Pernas P´ro Ar — ainda no forno) é agora altura de me desafiar e partir para outros mundos.

É com um tremendo orgulho que partilho convosco a primeira imagem da Coletânea "O Tempo das Palavras com Tempo", que será publicada brevemente e da qual sou coautora com o conto "Por Ti".

Se há 10 anos me dissessem que o meu nome iria configurar uma lista de autores numa coletânea ou que, ao fazer uma pesquisa no google com o meu nome este iria surgir enquanto escritora de livros infantis, dificilmente acreditaria e largaria uma gargalhada típica de quem sempre se habitou a rir de si próprio. Contudo, quer a vida nos encher de surpresas e nos colocar perante caminhos que julgamos impossíveis.

Nunca me identifiquei com o meu signo, nem liguei muito a esses misticismos, para ser honesta. A vida fez-se dura e foi preciso acreditar muito em mim para perceber que só dessa forma atingiria objetivos, no entanto, algumas características de Peixes pareciam roçar qualquer coisa que me era familiar. Fala-se de pessoas sonhadoras e criativas, e eu, que até de dia consigo sonhar, nunca compreendi que as artes não se limitavam ao quadro pintado a aguarela, à casa chinesa construída com palitos de fósforo (saudades tuas, avó Graciete) ou do jeito para as malhas ou o croché. Levei tempo a perceber que a escrita era também uma arte. A minha. Aquela, dentro de todas, que melhor faço. Que melhor sei. Que mais gosto.

Sou mãe, filha, mulher, esposa, amiga, governanta e escritora, porque, como tão bem gosto de explicar: Nenhum de nós é uma única coisa, mas sim, as experiências, ensinamentos e aprendizagens que nos levaram ao exato lugar que ocupámos.

Que nunca nos faltem sonhos por concretizar.

Deixo-vos a sinopse do meu conto, que se apresenta num registo totalmente diferente daquele que o meu público se habitou, ainda assim, espero que gostem, que se emocionem.

A todos vós que gostam de ler-me, o meu muito obrigada.

"Laura sempre vivera em casas munidas de gritos que ecoaram ao longo da sua vida e a levaram a relações disfuncionais e a distorções daquilo que deveria ser o amor. Tudo muda quando conhece Bruno e se apaixona, irremediavelmente, pelas suas palavras, beleza, jeito meigo e beijos calorosos. O namoro escala e dá lugar ao casamento. Laura respira felicidade, mas, sem se aperceber, o relacionamento começa a transformar-se em algo ruidoso, contudo ainda desconhecido para ela, que a leva a submeter-se às vontades do marido, anulando, de dia para dia, as suas.

As decisões que toma, enquanto mulher dedicada em exclusivo ao casamento, começam a ter consequências e Laura vê-se sozinha, desamparada, sem amigos ou família a quem recorrer, por vergonha e medo, quando o seu mundo lhe foge debaixo dos pés e é agredida pela primeira vez. 

Empenhada em salvar o seu casamento e ser feliz ao lado daquela pessoa que não consegue deixar de amar, a sua vida passa a ser uma luta constante entre a utopia daquilo que projetou para si, e a realidade, tão longínqua, daquilo que realmente vive.

Por aguentar um casamento violento e abusivo, julga estar a ser recompensada quando descobre que está grávida. Aquele estado de graça passa a ser, no seu ponto de vista, a causa e a consequência de tudo o que ficara para trás, e que o que acontecera até então deverá ser esquecido e perdoado em prol da criança que está para chegar.

Invadidos por uma alegria nova e contagiante, Laura e Bruno preparam-se para a segunda ecografia quando algo corre terrivelmente mal.

Estará Laura preparada para tomar a maior e mais difícil decisão da sua vida e sobreviver às suas repercussões?"






 







sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Esse tal amor de mãe

 

Quando a Maria Clara nasceu disseram-me que parte desta coisa de ser mãe e de reconhecer a verdadeira essência do amor incondicional, era perceber que ele aumentava todos os dias.

Custou-me a crer, ou seja, não duvidei de quem afirmou tal manifestação de amor, mas achava difícil amar mais do que aquilo que já amava, sentir o coração pulsar ainda com mais força, querer apertar um abraço durante mais tempo ou ter o estômago ainda com mais borboletas esvoaçantes quando encostava o meu nariz ao dela.

Contudo, o tempo foi passando e a Maria Clara começou a compreender o que eu dizia, começou a reagir com sorrisos à minha voz.

De repente, romperam-lhe os primeiros dentes e eu segurei-a no colo enquanto ela se contorcia com as primeiras dores a sério.

De repente, ela começou a gatinhar tal macaquinho apoiado numa só perna, o que fazia as delícias das próprias macacadas dos pais.

De repente, ela começou a brincar connosco, a fazer caretas quando sabia que as devia fazer, a fechar os olhos e a boca e a encolher o nariz quando lhe mostrávamos a colher com o antibiótico.

De repente, ela começou a andar e eu ganhei uma nova dor nas costas por, como sempre, querer ampará-la nas suas quedas.

De repente, ela começou a falar e a expressar-se de uma forma completamente compreensível, dizendo o que sentia, o que queria e, especialmente, o que não queria.

De repente, começou a reconhecer as diferenças entre o frio e o calor, o sol e a lua, o grande e o pequeno, o alto e o baixo.

De repente, iniciou o desfralde e, sim, muito de repente eu dei por mim a comprar-lhe as primeiras cuecas porque a minha bebé já não usava fralda.

De repente, deita-se comigo na cama e abraça-me com tanta força que é ela quem consegue engolir-me no seu regaço e no seu amor.

E assim, de repente, sem eu ter conseguido identificar com precisão o momento em que aconteceu, eu percebi que tinham razão. Que este amor aumenta, nunca se esgota e nunca se esgotará.

Nunca, no mundo e na vida, haverá maior amor que o amor de mãe.

Nunca, no mundo e na vida, haverá maior dádiva que um filho.




 

sexta-feira, 27 de março de 2020

Beijos que matam

Os dias revelam um cansaço nunca antes vivido.
Corpo e mente vagueiam entre os espaços em branco dos metros quadrados da vida de cada um.

A rotina de que muitos se queixavam tinha desaparecido, e no lugar dela existiam somente dias a passar.
Os dias, que agora mais do que nunca, faziam juz ao clichê: um de cada vez...não podia ser diferente, por mais que o ansiássemos!

Dizem-me que o mundo mudou, mas não podiam estar mais errados.
As árvores que vejo da minha janela - agora mais sagrada que nunca - continuam no mesmo sítio, o vento que as faz balançar continua a soprar, as nuvens, quais símbolos de liberdade agora tão esperada, espreitam-me lá do alto, os pássaros - alheios a novos tempos - batem as asas e desaparecem num voo feliz (assim o entendo), pois cantam melodias que antes não ouvíamos - não tínhamos tempo - justificávamos nós.

Não, o mundo não mudou! Tudo continua exatamente onde sempre esteve, somos nós os ocupantes de novos lugares nesta viagem inesperada.

É tempo de pensar, recomeçar, analisar; e tempo é coisa que agora não nos falta, certo?

Reaprendemos a amar numa realidade onde deixaram de existir abraços, onde os beijos podem matar e as saudades se apaziguam através de ecrãs.
Sorrimos com os olhos mas o peito enche-se de dor, pois cada um sabe o medo que o incerto lhe traz.

Os netos vêem-se da janela e seguram-se lágrimas de amor.
As amizades alimentam-se de planos futuros, gargalhadas que disfarçam receios e mensagens que aquietam o coração.

Dizem-nos que vai ficar tudo bem e nós tendemos a acreditar, afinal, através de um inimigo invisível, o mundo permitiu-se ver o que, no fundo, sempre importou: o amor!


Só as mães sabem

Amar-te. É sentir saudades tuas todos os segundos, mesmo que estejas a meu lado. É ser irracional e querer cuidar-te sempre. Para sempre. Co...