Nas histórias de encantar, o príncipe e a princesa ficam sempre juntos no final e, ao que parece, felizes para sempre. No entanto, ninguém ficou para contar o que acontece depois destes personagens terem filhos.
Um casamento com filhos é difícil. Não há outra forma de colocar as coisas. Por mais amor, compreensão e carinho que exista, um filho transforma toda e qualquer realidade de um casal.
Existem duas frentes bem distintas dessa mesma realidade. Por um lado, temos o marido e a mulher no papel de pais, onde se celebra cada vitória do filho, onde se dá gargalhadas por cada descoberta, onde a cumplicidade os leva a observar a criança com curiosidade na tentativa de perceber com quem tem mais semelhanças. Por outro lado, temos o casal a nu, sem a “capa” protectora que o filho lhes confere.
O casal que deixou de conversar sobre a vida em comum ou que deixou de planear férias ou fins-de-semana a dois. O casal cansado que deixou o sexo para segundo ou terceiro plano, pois deixou de fazer disso uma prioridade. O casal que já não se cumprimenta com um beijo ou um carinho, porque existe outra pessoa a quem dar atenção, quando se chega a casa. O casal que, quando se apercebe, está a criar os filhos em conjunto, divide casa, despesas e responsabilidades, mas deixou de dividir a cama, a intimidade ou os sonhos.
Existe a afeição mútua, mas não o amor.
Ainda que um divórcio nunca seja fácil, pois representa sempre, independentemente das circunstâncias, um sentimento de perda, nesta situação específica é fácil chegar ao desgaste da relação e ao seu consequente término. Naturalmente, os filhos serão sempre o melhor do casal e não o motivo pelo qual a relação acaba, mas, sim, o fio condutor que levou à deterioração de algo que, possivelmente, já não estaria a funcionar em pleno.
E quando esta união acaba, como fica a mulher?
A mulher que passou a ser ex-mulher, que passou a ser solteira, mas com uma conotação um tanto ou quanto negativa conferida pelo divórcio. Na mãe solteira, apela-se, quer queiramos, quer não, à pena ou, se preferirmos, à solidariedade e à mãe divorciada apela-se ao quê?
Uma mãe divorciada, embora não sinta que falhou enquanto mãe ou mulher, será sempre vista dessa forma pela sociedade. Não serão poucas as vezes que ouvimos comentários menos agradáveis sobre este assunto, ou seja, não havendo para esta sociedade um motivo credível ou palpável o suficiente que justifique um divórcio, tal como violência doméstica ou traição (e ainda assim, este último seria discutível), a mulher divorciou-se, porque quis, porque tem outro homem ou porque deixou de gostar do marido. Como se estes motivos não fossem tão válidos como quaisquer outros.
Uma mãe divorciada tem sempre mais a justificar, ainda que não tenha, à sociedade. Um pai apresenta-se como divorciado e o mundo continua a girar, uma mulher faz o mesmo e há sempre, vindo de qualquer canto, um olhar reprovador. Portanto, será justo dizer que este caminho é sempre mais difícil de ser percorrido por uma mulher.
Existe agora uma nova ligação ao ex-marido, aquele que já não amamos, mas que fará, para sempre, parte das nossas vidas, porque é o pai do nosso filho. Como se gere esta relação?
Embora o divórcio tenha sido o único caminho a seguir, haverá sempre alguma mágoa, algum ressentimento pela falha do relacionamento e muitas vezes a culpa dessa falha é colocada no outro.
Teremos que conseguir pôr de parte qualquer sentimento menos bom relativamente a essa pessoa em prol do bem-estar do nosso filho. Teremos que conseguir ser cordiais o suficiente para nos limitarmos às conversas que concernem à criança e não ultrapassar o limite daquilo que passará a ser a vida privada de cada um, agora que deixou de ser comum. Teremos ainda que gerir novas rotinas, novos horários. Teremos que estabelecer os dias de visita do pai, a guarda-conjunta ou partilhada e qual a casa que será a morada da criança.
Nem sempre esta nova gestão corre bem, o casal que já existiu no passado cada vez mais se distancia pela lógica do passo dado e, dessa forma, ainda que fosse de esperar que o entendimento fosse a reacção mais esperada, por vezes torna-se insustentável este novo relacionamento.
Sou mãe e sou divorciada e, apesar destas circunstâncias de vida não terem acontecido em simultâneo, sei que as mães divorciadas são aquelas que serão capazes de enfrentar o mundo, são as guerreiras, são aquelas que não aceitaram a condição de serem casadas e com filhos para que isso definisse o seu conceito de felicidade e decidiram arriscar. Arriscar o divórcio e a vontade de ser feliz outra vez. São aquelas que arregaçam as mangas e fazem o que for preciso para que nada falte aos filhos, seja a relação com o ex-marido pacífica ou não. São as mulheres que sabem que conseguem alcançar o que quiserem e que não se baseiam na aprovação ou reprovação de ninguém para justificar ou creditar as suas acções.
São as mulheres que se chorar for preciso, fazem-no sozinhas, no banho, enquanto a água cai e se mistura com as lágrimas.
Porque ninguém melhor do que elas, sabe o quão difícil um divórcio com filhos pode ser; o quão difíceis as noites em branco com o termómetro em punho, podem ser; o quão difícil é criar um filho desamparada, ainda que com um pai por perto.
Porque estas mulheres e mães sabem o poder e o valor que têm e acreditam piamente que dias melhores estarão para vir e esses, com certeza, serão os que irão prevalecer.
Artigo originalmente publicado no Repórter Sombra
Artigo originalmente publicado no Repórter Sombra
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