Minha
filha, hoje, dia 08 de Março, assinala-se o dia da Mulher.
Sabes,
ainda és pequenina para falar contigo sobre estes assuntos, mas, verás que,
termos nascido com uma vagina entre as pernas, consegue tornar a
nossa vida bastante difícil, por vezes.
Durante
muito tempo não soube exatamente o que era o dia da mulher. Porque, à conta de
um determinado grupo de mulheres que também não deveria saber o que a data
assinalava, eu via este dia como o dia da desbunda. O dia de sair à noite, de ver
strip tease, de roçar as nossas
partes nas partes dos homens, apanhar uma valente cadela (com o tempo logo te
explico esta expressão) e mostrar ao mundo que somos mulheres e somos poderosas,
o que quer que isso significasse neste contexto.
No
entanto, confesso que sempre me fez confusão que, para explicar ao mundo o
poderio das mulheres, tivéssemos que ir sair e ver…homens…não sei, não me
parecia a melhor forma de mostrar, sei lá, a nossa independência.
O tempo
passou e, com idade suficiente, fui pesquisar sobre o assunto e descobri que
esta data se assinala para homenagear a morte de 146 mulheres, que perderam a
vida queimadas, em 1911, enquanto lutavam pelos seus direitos.
Sabes, filha,
isto aconteceu há 108 anos, e como tal, deveria ser de esperar que tal já não se
verificasse, que já não fosse necessário cerrar o punho para mostrar que também temos
direitos, e que valemos tanto quanto os homens. Mas é…
Um dia,
quando tivermos esta conversa, quero acreditar com todas as minhas forças que
aquilo que é a realidade dos dias de hoje, seja somente uma memória distante de
tempos passados.
Porque a
verdade é que em pleno século XXI, depois de tantas e tantas lutas das nossas
antepassadas, as mulheres continuam a ser vistas como um ser inferior, como
alguém que nasceu com o específico papel de cuidar da casa e ter filhos. Alguém
que só percebe de tachos e panelas e da lida da casa.
Os tempos mudaram, mas
ainda não mudaram o suficiente.
Que o
facto de teres uma vagina, não deverá querer dizer que ao vestires uma saia ou
um decote, estarás “a pedi-las”.
Que o
facto de teres uma vagina, não deverá querer dizer que irás ganhar menos 13% de
salário que um homem em igual posição.
Que o
facto de teres uma vagina, não te obrigue a seres mãe se assim não o
entenderes.
Que o
facto de teres uma vagina, não te faça sentir promiscua porque dormiste com os
homens que te apeteceu, quando te apeteceu, ao contrário do homem que fez o mesmo
e nenhum mal veio ao mundo, simplesmente porque nasceu com um pénis e não com uma vagina.
Que o
facto de teres uma vagina não te classifique de incapaz ou menos inteligente
que um homem.
Que o facto
de teres uma vagina não te marginalize se escolheres amar outra vagina.
Que o
facto de teres uma vagina não seja motivo para apanhares de qualquer homem que
passe pela tua vida.
Que o
facto de teres uma vagina, e se o entenderes, gerares uma vida, não seja
justificação para o teu contrato de trabalho terminar com uma qualquer “justa
causa”, ou que o teu ordenado sofra consequências por estares a usufruir
daquilo que é teu por direito, esse mesmo direito que tantos anos levou a conquistar.
Que o
facto de teres uma vagina, não signifique que aceitarás a ajuda do homem ou
mulher que decidir partilhar a vida contigo, porque não é de ajuda que se trata,
mas sim de divisão de tarefas.
Que o
facto de teres uma vagina não te dê nem mais nem menos do que terias ou serias,
se tivesses um pénis.
Porque sabes, meu amor, nunca se tratou de extremismos, de querermos ser mais que os homens ou superiores a eles. Sempre se tratou, e tratará, de sermos iguais, com todas as diferenças que nos tornam únicos.
Um dia teremos esta conversa, eu, tu e o pai.
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